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terça-feira, 10 de abril de 2012

Abaixo a Arena!



O noticiário é pródigo em coberturas esportivas, especialmente futebol. Infelizmente, e cada vez mais frequentemente, os eventos esportivos estão sendo destaque também nas páginas policiais. Brigas, pontuais ou generalizadas, dentro ou fora dos estádios, mas sempre tendo como mote o futebol, terminam em famílias e comunidades chorando mortos ou tratando feridas e sequelas. Dias atrás, postei um singelo e bem humorado comentário sobre futebol numa rede social: recebi uma torrente de respostas grosseiras, ameaçadoras e de baixo calão, todas partindo de conhecidos ou seus amigos virtuais. Nenhum deles estava fazendo-o no anonimato, estavam lá seus nomes e suas fotos. Pessoas aparentemente serenas e tranquilas perderam a compostura frente a uma brincadeira: a pseudo-agressão à sua paixão esportiva.
Parece necessária nossa reflexão em busca das razões desse comportamento, que deixou de ser individual para tornar-se social. O que motiva esse procedimento? Entre tantas possibilidades, ouso levantar uma que pode causar polêmica: a forma como estão vendendo esse lazer chamado futebol para seu público. A diversão virou negócio. Nos negócios, é preciso ganhar, sempre. Jogos viraram batalhas, campeonatos e copas transformaram-se em guerras. Na guerra dos campeonatos, que valem milhões, os responsáveis elaboram a transformação: uns contratam lutadores e não jogadores. Outros mostram sua identidade em camisas ensanguentadas. A mídia adorou, o consumidor delirou: violência virou garra, pancadaria tornou-se coragem. Hoje, jogadores são guerreiros, gladiadores, heróis. Torcedores são hordas que invadem, tomam de assalto, cantam cânticos de guerra e intimidam adversários à exaustão. Jogar em casa é a glória, jogar fora é perigoso. Estádios viraram arenas, onde se morre ou se mata. Espíritos devidamente armados, todos à arena. Fazemos parte de um exército. Placares eletrônicos mostram seus jogadores como soldados, prestes a entrar num campo de batalha, dispostos a dar a vida pela vitória. Com a adrenalina nas alturas, muitos torcedores não sabem distinguir lazer e diversão da competição, onde o prêmio é a morte do oponente. Sai de cena o ser humano, lógico e racional; entra o animal, feroz e determinado: é matar ou matar. Pancada no meu jogador é falta, urros de revolta, dentes à mostra. Pancada no adversário é o êxtase: na próxima, quebra, ou melhor, mata! Juízes que deixam o jogo correr são os melhores. Os que punem a violência só atrapalham o espetáculo.
Quando o jogo termina essa brutalidade ganha as ruas, contamina os comportamentos e a guerra se generaliza, seja nas empresas, nas casas ou no trânsito. Nos quedamos catatônicos, impotentes, incapazes de entender o que está acontecendo. Os dirigentes falam em paz, mas seus atos incitam a guerra.
É tempo de assumirmos nossa responsabilidade sobre o que nossa paixão esportiva está fazendo com nossa sociedade. Ou, vai se tornar realidade a música do Guns and Rose’s, executada como trilha sonora em um estádio estes dias na apresentação dos jogadores: Welcome to the Jungle, bem-vindo à selva.
Voltem os estádios, abaixo as arenas! Viva o futebol, abaixo a batalha!

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