O
noticiário é pródigo em coberturas esportivas, especialmente futebol.
Infelizmente, e cada vez mais frequentemente, os eventos esportivos estão sendo
destaque também nas páginas policiais. Brigas, pontuais ou generalizadas,
dentro ou fora dos estádios, mas sempre tendo como mote o futebol, terminam em
famílias e comunidades chorando mortos ou tratando feridas e sequelas. Dias
atrás, postei um singelo e bem humorado comentário sobre futebol numa rede
social: recebi uma torrente de respostas grosseiras, ameaçadoras e de baixo
calão, todas partindo de conhecidos ou seus amigos virtuais. Nenhum deles
estava fazendo-o no anonimato, estavam lá seus nomes e suas fotos. Pessoas
aparentemente serenas e tranquilas perderam a compostura frente a uma brincadeira:
a pseudo-agressão à sua paixão esportiva.
Parece
necessária nossa reflexão em busca das razões desse comportamento, que deixou
de ser individual para tornar-se social. O que motiva esse procedimento? Entre
tantas possibilidades, ouso levantar uma que pode causar polêmica: a forma como
estão vendendo esse lazer chamado futebol para seu público. A diversão virou
negócio. Nos negócios, é preciso ganhar, sempre. Jogos viraram batalhas,
campeonatos e copas transformaram-se em guerras. Na guerra dos campeonatos, que
valem milhões, os responsáveis elaboram a transformação: uns contratam
lutadores e não jogadores. Outros mostram sua identidade em camisas
ensanguentadas. A mídia adorou, o consumidor delirou: violência virou garra,
pancadaria tornou-se coragem. Hoje, jogadores são guerreiros, gladiadores,
heróis. Torcedores são hordas que invadem, tomam de assalto, cantam cânticos de
guerra e intimidam adversários à exaustão. Jogar em casa é a glória, jogar fora
é perigoso. Estádios viraram arenas, onde se morre ou se mata. Espíritos
devidamente armados, todos à arena. Fazemos parte de um exército. Placares
eletrônicos mostram seus jogadores como soldados, prestes a entrar num campo de
batalha, dispostos a dar a vida pela vitória. Com a adrenalina nas alturas,
muitos torcedores não sabem distinguir lazer e diversão da competição, onde o
prêmio é a morte do oponente. Sai de cena o ser humano, lógico e racional;
entra o animal, feroz e determinado: é matar ou matar. Pancada no meu jogador é
falta, urros de revolta, dentes à mostra. Pancada no adversário é o êxtase: na
próxima, quebra, ou melhor, mata! Juízes que deixam o jogo correr são os
melhores. Os que punem a violência só atrapalham o espetáculo.
Quando
o jogo termina essa brutalidade ganha as ruas, contamina os comportamentos e a
guerra se generaliza, seja nas empresas, nas casas ou no trânsito. Nos quedamos
catatônicos, impotentes, incapazes de entender o que está acontecendo. Os
dirigentes falam em paz, mas seus atos incitam a guerra.
É
tempo de assumirmos nossa responsabilidade sobre o que nossa paixão esportiva está
fazendo com nossa sociedade. Ou, vai se tornar realidade a música do Guns and
Rose’s, executada como trilha sonora em um estádio estes dias na apresentação
dos jogadores: Welcome to the Jungle,
bem-vindo à selva.
Voltem
os estádios, abaixo as arenas! Viva o futebol, abaixo a batalha!
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