Domingo de decisão. Desta vez,
sai um campeão. Última rodada, como deve ser um campeonato emocionante. Uns
jogam para vencer, outros apenas para não perder. E há até alguns que jogam
pelo simples prazer de não deixar que os outros vençam. Jogadores focados,
imprensa instigante e torcedores ensandecidos rumam para as arenas como
gladiadores dispostos a morrer pela causa. Peraí: que causa?
É interessante observar como as
pessoas se mobilizam (ou são mobilizadas) por fatores sem nenhuma importância social,
atentas apenas ao apelo do momento. O jogo de futebol e o paredão do reality show são apenas amostras do
movimento que a massa catatônica faz sem nem saber direito a razão. Vamos
combinar que aquela atração televisiva, cheia de atores de araque, travestidos
de vida real, não vale uma ligação, quiçá várias. E que jogo de futebol é um
espetáculo absurdamente caro para seu público. Quando é espetáculo, porque na
maioria das vezes é um joguinho, vaiado boa parte do tempo. Sem nenhum
conforto, mínima atenção ou respeito, tratado como uma boiada rumo ao matadouro,
lá vai o torcedor para o estádio. Perdão, arena, porque agora ele é um lutador,
que vai vencer a batalha contra esse inimigo atroz que cometeu o supremo pecado
de gostar de outra cor. Mas isso tudo não importa, tudo vale pela catarse do
gol. E se não houver? Ah, que pelo menos meu jogador quebre a perna daquele
desgraçado que fez um gol em
nós. Se nada acontecer, vou ter que armar um sururu de caroço
com a torcida adversária, dar e levar alguns socos e pontapés, com sorte sair
vivo, e na segunda contar para os amigos, com o peito estufado, como foi o domingo de futebol.
Na correria da emoção, nem
percebi o menino franzino, de pés descalços, que pedia esmola, quando entrei no
portão do estádio. Na saída, furioso com a derrota ou embriagado pela vitória,
mal vislumbrei aquele prédio velho perto do estádio, onde centenas de idosos
sem recursos clamam silenciosos por ajuda. E muito menos aquele menino chato, que voltou a pedir esmola, agora no semáforo onde parei. Fechei o vidro do
carro. Essas coisas não são minha responsabilidade. Importante mesmo é a
partida de futebol.
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