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quinta-feira, 1 de junho de 2017

Viagem

A cena mostra que o cotidiano nos ensina, sempre: uma moça estava sentada no ônibus quando uma senhora, mal-humorada e velha, veio e sentou-se ao lado dela batendo-lhe com suas numerosas sacolas. Uma pessoa sentada do outro lado, ficou injuriada com a situação e perguntou à moça por que ela não reclamou ou disse algo para a velha senhora!
A moça respondeu com um sorriso:
- Não é necessário... Vou descer na próxima parada!
Fiquei pensando naquilo: não é necessário discutir sobre coisas insignificantes, nossa jornada juntos é tão curta! Se cada um de nós pudesse perceber que a nossa passagem por aqui é tão curta... Por que brigas, argumentos fúteis, ingratidão e atitudes ruins? Isso é um grande desperdício de tempo e energia!
Alguém quebrou seu coração? - Fique calmo, a viagem é tão curta ..
Alguém lhe traiu, intimidou, enganou ou humilhou você? - Fique calmo, perdoe, a viagem é tão curta... Qualquer sofrimento que alguém nos provoque, vamos lembrar que a nossa jornada juntos é tão curta ..
Sejamos cheios de gratidão e doçura. A doçura é uma virtude nunca comparada ao caráter mau ou covardia, mas melhor comparada à grandeza. Nossa jornada juntos aqui, além de muito curta, não pode ser revertida ...
Ninguém sabe a duração de sua jornada. Ninguém sabe se terá que descer na próxima parada....
Vamos, portanto, acalentar e manter a doçura e amabilidade com os amigos e familiares! Vamos tentar nos manter calmos, respeitosos, gentis, gratos e perdoar uns aos outros. E se eu, em algum momento, te machuquei, por favor, me perdoe!

Maturidade

Contei meus anos  e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral do condomínio.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos: quero a essência, minha  alma tem pressa.
Quero viver ao lado de gente humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a vida valer a pena, e para mim, basta o essencial!

Habilidades


Existem pessoas com extremas habilidades. Aliás, acho que tudo aquilo que fazemos melhor - e que nos diferencia dos demais - são manifestações divinas dentro da gente. Alguns tem dotes culinários, outros para a escrita, matemática ou música. Isso não chega a ser motivo de vaidade, todo mundo tem algo superior dentro de si. Basta descobri-lo e desenvolvê-lo. O ponto forte de uma amiga era ser firme nos seus posicionamentos. Tinha o dom de saber dar sua opinião. Geralmente estava certa. Ela sabia disso, só que abusava do talento. Com temperamento forte, chegava a colocar medo nas pessoas que conviviam com ela. Sua verdade tinha que prevalecer. No auge dos seus vinte e poucos anos, começou a ser rotulada de arrogante e conforme o tempo passava, mais a situação se agravava. E aquilo que era uma manifestação genial acabou soterrado pelo excesso de volume, transformando um excelente ponto forte em fraco. Acabou tendo que trocar de emprego, marido e amizades várias vezes. O volume da sua habilidade era tão alto que deixava todos surdos. Dar volume demasiado a um talento é mais comum do que pensamos. Tem os que falam bem, mas falam demais. Tem os que tem o dom de escutar, mas escutam demasiadamente e acabam não falando. Chefs de cozinha que se atrapalham no excesso de tempero. Escritores que perdem uma boa história por usar muitas palavras. Matemáticos que erram nas contas por exceder nos números. Músicos que estragam melodias pelo excesso de notas musicais. Devemos cuidar para que o volume não transforme habilidades em debilidades. Poderia ser qualquer um de nós, desperdiçando talento com o uso exagerado daquilo que faz melhor que os outros. A Sabedoria não é aquilo que nós sabemos. A Sabedoria é aquilo que nós fazemos com o que sabemos.

Vaidade e virtude

Instituímos a vaidade como virtude. A humildade não pega bem. A crença na vaidade como uma nova virtude nos faz pensar sobre o futuro. É cada vez mais difícil atribuir notas baixas a alunos ou punir alguém por alguma coisa. É cada vez mais difícil estabelecer regras, porque imediatamente a vaidade produz a hermenêutica da regra, a interpretação. Essa interpretação ressignifica a todo instante a necessidade de sermos únicos, especiais, fortes e onipresentes. Nossa vaidade não permite mais a falha, porque há auxílios químicos para isso. Não permite mais a tristeza, porque há auxílios químicos para isso. Não permite mais simplesmente viver a dor e o fracasso. Não podemos mais conviver com a depressão, a dor e o choro, que animaram a humanidade, alavancas de crescimento do caráter e inspiração em todas as áreas. Aprendíamos com a queda. Levanta prá cair de novo! E de queda em queda, aprendíamos. Hoje, devemos subir sem quedas. Nossa vaidade há muito tempo deixou de ser um defeito e passou a ser uma virtude sólida. É função dos pais estimularem seu novo nome: a auto estima. Hoje, não consertamos mais nada, nem as coisas, nem relações humanas. Nós trocamos. E ao trocar sapatos, computadores e pessoas que amamos, vamos substituindo a dor do desgaste pela vaidade da novidade. Cremos que, ao trocar alguém, imediatamente nos tornamos mais interessantes. Embora no jogo de xadrez da vida, todos nos achemos reis e rainhas, esquecemos que, ao final do jogo, todos voltamos, juntos, para a mesma caixa.  

Amar

Vale a pena amar. Se não somos amados, não é importante. Importante é quando se ama. Não nos preocupemos com os inimigos. Todos temos inimigos. Mas isso é secundário. O importante é não ser inimigo de ninguém. Se alguém não gosta de nós, o problema é dele. Mas quando não gostamos de alguém, o problema é nosso. Então, amem. Seja qual for a circunstância, o amor é o sublime elixir da plenitude, tanto para quem o dissemina, como para quem é dirigido. Disse o profeta: amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo. Ame-se também. Quando se ama, a gente se instrui, se cuida, se prepara para uma vida feliz. E somente quando se ama, se é capaz de amar a outrem. Porque amando-se, podemos perceber e valorizar as dificuldades que existem para abandonarmos nossas imperfeições, nossas mazelas, e conhecermos a tolerância, a compreensão, a fraternidade e, por fim o amor. O amor é a alma da vida.

Os Felizes

Existem umas pessoas admiráveis andando por aí. Grandes homens e mulheres, gente que supera toda desesperança. Tentamos sempre compreender como conseguem levar a vida de maneira tão superior à maioria, ler seus gestos e aprender com eles. De tanto as observarmos, percebemos alguns pontos em comum entre todos, e o que mais impressiona é que são felizes. A felicidade é parte deles. Desfrutam de uma alegria genuína, leve e discreta. Nenhum leva uma vida perfeita. Não são famosos. Nenhum é milionário, alguns vivem com muito pouco, inclusive. Nenhum tem saúde impecável, ou uma família sem problemas. Todos enfrentam e enfrentaram dissabores de várias ordens. Mas continuam discretamente felizes. O primeiro hábito que eles têm em comum é a generosidade. Mais que isso: eles têm prazer em ajudar, dividir, doar. Ajudam com um sorriso imenso no rosto, jamais pedem algo em troca, costumam oferecer ajuda antes que se peça e ficam inquietos com a dor do outro. Os felizes, sobretudo, doam o próprio tempo, suas horas de vida, às vezes dividem o que têm, mesmo quando é muito pouco. Também observamos os infelizes: eles costumam ser egoístas. Negam qualquer pequeno favor, reagem com irritação ao mínimo pedido. Quando fazem, não perdem a oportunidade de relembrar, quase cobram medalhas, calculam o benefício próprio e seguem assim, infelizes. O segundo hábito notável dos felizes é a capacidade de explodir de alegria com o êxito dos outros. Os felizes vibram tanto com o sorriso alheio que parece um contágio. Talvez seja um segredo de felicidade, até porque os infelizes fazem o contrário. Tratam rapidamente de encontrar um defeito no júbilo do outro. E seguem infelizes. O terceiro hábito dos felizes é saber aceitar. Principalmente aceitar o outro, com todas as suas imperfeições. Sabem ouvir sem julgar, opinar sem diminuir e a hora de calar. Sobretudo, sabem rir do jeito de ser de seus amigos. Sorrir é uma forma sublime de dizer: amo você e todas as suas pequenas loucuras. Podemos ainda não ser um dos felizes, mas sigamos tentando. Sigamos buscando acender a luz genuína e perene de alegria na alma. Sigamos os felizes, pois eles sabem o caminho...