.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A mão e a palmatória





Somos a mão e a palmatória
As costas e a chibata
somos nosso próprio castigo.

Fazemos as leis e as transgredimos,
pagamos as placas, pagamos os guardas
e recebemos as multas.

Elegemos os governos por conchavos interesseiros
e depois reclamamos que nos oprimem
pichamos o muro das escola
que nos ensinou a escrever.

Temos muitas amigas, perenes ou passageiras
a quem oferecemos nosso mais profundo respeito
e magoamos a mãe dos nossos filhos.

Lavamos com sabonete refinado
as mãos antes do furto
e o corpo antes do adultério.

Plantamos no mesmo vaso
a rosa que perfuma
e a papoula que mata.

Clareamos os dentes para o sorriso maldoso
sarcástico, provocador
e atendemos nosso cliente sem olhar na face
a menos que nos traga um excelente negócio.

Sujamos o chão que alguém varreu
reclamamos da refeição que alguém preparou
com o dinheiro que às vezes nem é nosso.

Temos preguiça de estudar
e queremos saber mais que os outros.
Roubamos horas de trabalho de quem nos paga
sem qualquer pudor.

Ostentamos rostos que não são nossos
elaborados pela estética
junto de um caráter que também não temos.

Desmatamos florestas
juntamos a lenha
e acendemos o fogo do nosso próprio inferno.

Sujamos a água de um jeito
que não conseguiremos limpá-la
e morreremos de sede.

E depois ainda nos proclamamos inteligentes.
(Joel Gonçalves)

Um comentário: