Instituímos a vaidade como
virtude. A humildade não pega bem. A crença na vaidade como uma nova virtude
nos faz pensar sobre o futuro. É cada vez mais difícil atribuir notas baixas a
alunos ou punir alguém por alguma coisa. É cada vez mais difícil estabelecer
regras, porque imediatamente a vaidade produz a hermenêutica da regra, a
interpretação. Essa interpretação ressignifica a todo instante a necessidade de
sermos únicos, especiais, fortes e onipresentes. Nossa vaidade não permite mais
a falha, porque há auxílios químicos para isso. Não permite mais a tristeza,
porque há auxílios químicos para isso. Não permite mais simplesmente viver a
dor e o fracasso. Não podemos mais conviver com a depressão, a dor e o choro,
que animaram a humanidade, alavancas de crescimento do caráter e inspiração em
todas as áreas. Aprendíamos com a queda. Levanta prá cair de novo! E de queda
em queda, aprendíamos. Hoje, devemos subir sem quedas. Nossa vaidade há muito
tempo deixou de ser um defeito e passou a ser uma virtude sólida. É função dos
pais estimularem seu novo nome: a auto estima. Hoje, não consertamos mais
nada, nem as coisas, nem relações humanas. Nós trocamos. E ao trocar sapatos,
computadores e pessoas que amamos, vamos substituindo a dor do desgaste pela
vaidade da novidade. Cremos que, ao trocar alguém, imediatamente nos tornamos
mais interessantes. Embora no jogo de xadrez da vida, todos nos achemos reis e
rainhas, esquecemos que, ao final do jogo, todos voltamos, juntos, para a mesma
caixa.
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