O
que leva o homem à impotência é o cuidado.
O que leva a mulher à frigidez é o cuidado.
O excesso de cuidado. Cuidado demais ataca.
Nunca
vi uma mulher ou um homem gostar sem criticar.
O embaraço do sexo não decorre da ausência de
intimidade, mas da intimidade. E da cobrança que vem com ela. Mais fácil gozar
com estranhos.
Depois de partilhar meses e cadernos de jornal com
nosso par, abandonamos o elogio. Passamos a cobrar e expor os defeitos para que
sejam corrigidos. É o cigarro, é a alimentação, é a distração, é o pouco caso
com o dinheiro, é a indeterminação do trabalho, é a preguiça. A convivência
traz a preocupação com o namorado ou a namorada e uma esquisita vontade de
interferir. Entre conhecer e mandar, é um passo. Ou um tropeço. As mais duras
agressões não provocam hematomas, ocorrem em nome da sinceridade.
O amor é confundido com pancadaria. Um teste de
resistência. Uma prova de esgotamento nervoso. Se o outro não quer, que vá
embora, que desista do prêmio maior que é a confiança.
Há uma visão sádica que não ajuda nem o
masoquista. Falta medida. Falta parar e recomeçar o namoro. Falta esquecer e
perceber que o próprio passado não é imutável, não existe certo ou errado, que
nem tudo por isso é duvidoso.
A eficácia mata o erotismo. O aproveitamento total
do tempo do relacionamento não colabora com a vaidade. Custa um agrado antes de
transar? Uma meia-luz de palavras?
Não estou pedindo para mentir, muito menos fingir,
mas falar um pouco bem para acordar os ouvidos e despertar o interesse.
No início, os joelhos são venerados, os ombros
recebem moldura de madeira, os cabelos são alisados com a decência de um
espelho. As expressões afetuosas vão e voltam, repetidas com diferentes
timbres. Todo homem no começo é, ao mesmo tempo, um tenor, um barítono e um
baixo. Toda mulher no começo é, ao mesmo tempo, uma soprano, uma mezzo e uma
contralto. Dependendo da região que toca, a voz muda.
Com a relação firmada, a excitação torna-se
automática. O corpo tem que pegar no tranco.
A devassidão é trocada pela devassa terapêutica.
Desculpa e por favor saem de moda. Como existe o trabalho, a casa, o dia
seguinte e terminou a paixão (e somente os apaixonados são sobrenaturais e não
sentem cansaço), o sexo pode ser mais prático, mais direto, pode até não ser.
Na cama, estaremos falando dos problemas, das contas, do que deve ser mudado na
personalidade. Não encontraremos paciência diante do relógio. Não vamos
procurar cheirar a pele para atrair o beijo.
Eu compreendo perfeitamente quando um homem broxa
se a cada instante é lembrado de sua barriga. Eu compreendo perfeitamente
quando uma mulher decide dormir quando sua lingerie nova não foi reparada.
Nunca acusamos quem a gente não conhece.
Julgamos, infelizmente, quem vive nos absolvendo.
(Fabrício Carpinejar)
Este texto tem o teu perfil!!!!
ResponderExcluir